segunda-feira, 30 de maio de 2011

Prematuro

Eclipse e Osmose Vegetal - Salvador Dalí



Prematuro

Fiz meu epitáfio aos oito anos,
quando então não tinha dentes
e mascava feito velho.

Pés escondidos sob a lama,
molhada pela chuva fina
que molhava a terra suja.

Gengivas encardidas: não havia sorriso;
costelas à mostra: não havia comida.

As mãos de parentes novos
cavaram a tumba;
meus pais estavam ausentes.

Ausente também estava o caixão:
cova rasa, não havia flores,
só último escarro como despedida.


_Fabrício de Queiroz Venâncio

6 Comentários:

Gildeone dos Santos Oliveira disse...

Cara, muito bom o poema. De Prematuro só o título!

Abraço.

Ricardo Thadeu (Gago) disse...

muy bueno

abç

Anônimo disse...

Não seria 'tardio' ??

Saboreio, compreendendo ou não, o teu poetar...é simples, me toca.

O Neto do Herculano disse...

Acredito que esse "Prematuro" teria ficado bem ao lado de "Idades" ou "Paredes".

André Guerra disse...

Muito bom, Fabrício. Parabéns!

Daniel Farias disse...

a infância alimenta nossa dor e alegria. todo o resto é consequência.

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